Eu não deveria estranhar o desconvite mas, como foi o primeiro da vida, a estranheza se estabeleceu. O defloramento é sempre dolorido e insólito.
Fui convidado a palestrar num determinado Tribunal para falar sobre Judicialização abordando a visão do advogado, pois havia juízes, promotores e outras autoridades compondo a mesa multidisciplinar.
Como estudo, falo, escrevo e atuo com o assunto há alguns anos sinto-me suficientemente preparado para abordá-lo em qualquer situação, com qualquer colega de mesa e com qualquer público. Por este contexto profissional fui chamado e aceitei o convite.
Eis que recebo ligação de quem me convidou falando que, em razão de minha postura externada nalgum(ns) artigo(s) que escrevi (nem quis saber qual ou quais) a organização do seminário entendeu por bem me desconvidar “para não criar constrangimento”.
Adaptando o provérbio “a cavalo dado não se olha os dentes” à situação, não cabe ao convidado questionar o desconvite. O organizador possui liberdade para montar o evento da forma como bem lhe aprouver, definindo como entender as mesas, os temas e os palestrantes. E todos sabemos e concordamos com isso.
O que espanta é o medo da organização de que eu poderia “causar constrangimento”, o que significa duvidar até da minha educação, cordialidade, postura institucional e capacidade de me portar em público de forma civilizada e respeitar as opiniões contrárias.
É pena, pois, se penso de forma que aparentemente é diferente das demais pessoas que estarão no evento, a exteriorização do meu posicionamento seria ótima oportunidade para que os participantes do seminário concordassem ou discordassem dele, formando, a partir daí, a sua própria opinião e convicção em relação ao assunto.
Afinal, não é para isso que servem os eventos? Para ouvir vários posicionamentos e vertentes sobre o mesmo assunto e tirar as nossas próprias conclusões a respeito dele?
A unicidade de posicionamentos a respeito da Judicialização da Saúde é praticamente impossível justamente em razão dos vários atores que a enfrentam no dia a dia – médicos, enfermeiros, farmacêuticos, advogados, juízes, desembargadores, promotores, pacientes, familiares, ONGs, gestores públicos, políticos etc. – que possuem seus próprios entendimentos e ideias para tentar vencer essa enorme dificuldade atual da população brasileira.
Cést La Vie!
Desejo sorte ao advogado que irá me substituir na palestra e tomara que ele não cause constrangimento a ninguém.
Como tudo sempre traz uma lição, tenho que refletir: devo continuar escrevendo da forma como entendo apropriada para revelar minhas convicções ou mudo o estilo para agradar a sensibilidade de leitores específicos e não lhes causar constrangimento?
E agora, o que fazer?
Josenir Teixeira
20.05.2019