Eu não sei se ele é culpado ou inocente. Ninguém sabe, pois ele ainda não foi julgado. As autoridades o acusam e os advogados o defendem, cada um com suas certezas. E cabe ao Judiciário do Japão decidir quem tem razão, após os recursos de praxe.
O contexto que envolve a sua prisão é impressionante e mostra que pessoas muito próximas a ele o traíram. Trairagem da grossa, o que é muito comum no mundo corporativo, mais do que possamos imaginar.
A Veja (20.11.19) informa que quando foi preso em Tóquio a primeira pessoa para quem ele ligou foi o seu Diretor Jurídico, “por quem tinha grande apreço”. Mal sabia Ghosn que justamente esse advogado “comandava um time de investigadores que vasculhou as movimentações financeiras do chefe – e entregou os resultados às autoridades.”
Não estou fazendo juízo de valor sobre a conduta do advogado. Estou comentando os fatos.
Nos últimos meses 3 colegas advogados foram demitidos sumariamente depois de muitos anos (décadas, até) à frente dos jurídicos de empresas. São colegas competentes que foram trocados simplesmente porque alguém quis, movido por circunstâncias não explicáveis porque partiram de decisões individuais adotadas por pessoas alçadas ao poder, no qual se melecaram. É do jogo. Ninguém tem estabilidade em nada nessa vida.
Mesmo que o serviço seja muito bem feito a pessoa é desconsiderada e trocada por ordem e desejo de um zé mané qualquer que decidiu fazer aquilo, o que sempre acontece de muito abrupta, desnecessária e até humilhante.
Um dos colegas foi informado da demissão e exigiram que ele entregasse o celular naquele momento, tendo sido acompanhado até a sua sala para recolherem o computador sem deixar que ele ao menos salvasse seus arquivos pessoais. Ele foi acompanhado até a porta da empresa para a qual trabalhou com muito êxito por 10 anos a fio. E sobre ele não paira nenhuma acusação. Nada. Simplesmente foi demitido por causa das famosas e sempre mentirosas reestruturações.
É do jogo, mas é cruel. É do jogo, mas não deixa de ser injusto, na perspectiva de cada um, obviamente.
E são esses fatos que te levam a repensar seriamente a sua doação pessoal em prol da empresa para a qual trabalha. Valem a pena os serviços realizados nos finais de semana, em sacrifício do convívio com a família? Valem a pena os trabalhos feitos sem hora? Valem a pena a preocupação com a empresa e as incompreensões da família se aquela te usa de forma conveniente e quando não quer mais te descarta sem levar em consideração qualquer atenuante? Mas se não foi assim será que sua permanência na empresa não seria abreviada?
As questões são complexas e não comportam respostas simples, como tudo na vida. E as respostas podem variar caso a caso a depender das especificidades deles, da postura e desejos dos envolvidos e mais uma série de detalhes que geram justamente a complexidade da relação.
Fato é que à medida em que você vai ficando velho – e experiente – as coisas ficam mais claras e a virada da chavinha te permite ver o que a imaturidade ou o contexto do momento não permitiram.
É o famoso dilema: se tivéssemos a experiência que o tempo nos dá na juventude … eu faria muita coisa diferente! Pois é. Pode ser. Mas isso não acontece. E nunca vai acontecer.
Eu costumo dizer que a experiência é um pente de ouro que você ganha quando fica careca.
É do jogo. Por enquanto. A tecnologia irá cada vez mais substituir o homem pela máquina. Os algoritmos continuarão a fazer o trabalho repetitivo sem a necessidade de humanos. Mais pessoas ficarão sem emprego. Menos pessoas serão exigidas para o mundo funcionar e aí a humanidade terá uma massa enorme de gente à toa, disponível, e sabe Deus o que acontecerá.
Isso não é alarmismo. É ceticismo. É a mera constatação do cenário disponível.
O que muito preocupa é que a falta de educação geral do brasileiro, e também de amor pelo próximo, não mudará num tempo de extremismos, de radicalismos e muito menos de escassez.
Se hoje já não muda, imagina num momento de guerra pela sobrevivência.
Enfim, teremos grandes emoções pela frente. E elas nem sempre serão boas.
Josenir Teixeira
Escrito em 20.11.2019