Planilhas são mais importantes do que o conteúdo delas. Eu ministrava aulas de Direito Hospitalar numa pós-graduação. Os alunos compunham a diretoria de hospitais. Os anos mudaram o perfil deles para pessoal burocrático, não estratégico. Angustiado, fui explicar ao coordenador minha desmotivação. Depois de me ouvir ele perguntou: você tem alguém para indicar ao seu lugar? Importava a ele um nome na planilha e não se o professor conhecia a matéria, tinha didática ou experiência. Hoje minha contratação foi cancelada por uma faculdade. Foi-me pedido dar aulas sobre tema de Direito para alunos de outras áreas, por seis horas. Aceitei. Porém, a informação estava errada e seriam dezesseis horas. Expliquei a desnecessidade daquela carga horária, pois o assunto não era tão polêmico e não havia como ofertar bom conteúdo e manter o interesse por quem não é da área por tanto tempo sem, em algum momento, encher linguiça com atividades ou dinâmicas que não agregam nada e serviriam apenas para ocupar espaço. Não adiantou. O curso foi vendido daquela forma e os alunos cobrariam. Declinei do convite por recusar a fazer papelão de professor enrolão e não conseguir extrair leite de pedra. “Contratação cancelada” foi o assunto do e-mail que recebi. Por algumas horas a planilha ficou sem um nome.