Era uma vez, no interior do Maranhão, um juiz que determinou ao secretário municipal de saúde a construção de uma UTI em 30 dias, sob pena de prisão. Fui chamado a intervir e (tentar) explicar ao juiz que UTI não se resume a uma sala com 4 paredes onde se escreve aquelas 3 letras na porta. As normas técnicas que a regulamentam são quase impraticáveis e representam enorme dispêndio financeiro para país de terceiro mundo. Apesar de preocupadas com o paciente, as regras mais parecem música de Aladdin ou inspiradas na obra de Thomas More. Mostrei ao juiz que o problema não era só o custo da criação da UTI, mas da manutenção mensal, que praticamente é o mesmo da instalação. Além dos equipamentos havia a necessidade de vários profissionais capacitados a operá-la, o que inexistia naquela cidade de 40 mil habitantes distante de São Luís. A UTI era inviável e sua exigência intransigente pelo juiz não passava de idealismo utópico alimentado pelo Google. O magistrado empacou e sua viseira não permitia olhar amplo nem contextualizado. Para não ser preso o secretário construiu a tal UTI aos trancos e barrancos e colocou na porta um bonito adesivo indicando o nome do setor. Dois meses depois ela foi fechada por falta de dinheiro. Juntei tudo e mostrei a trágica tristeza ao juiz. Fim.