Eu odiava os taxistas de um ponto em São Paulo porque todos eles eram arrogantes, deseducados, estúpidos e prepotentes. Mas eram os únicos autorizados e pegar passageiros naquele ponto. Então, quem necessitava sair daquele local (eu) não tinha alternativa senão se sujeitar àquele martírio. Em julho de 2014 isso mudou, pois passei a usar o Uber e nunca mais peguei táxi naquele ponto. Os mesmos taxistas daquele ponto hoje são educados, solícitos e atenciosos não porque passaram a considerar o passageiro que paga a corrida como consumidor dos seus serviços, mas porque não iriam trabalhar se não mudassem o seu procedimento. Lembrei dessa história por causa do artigo de Raul Cutait (Folha de S.Paulo, 31.01.20) intitulado “Inteligência artificial, medicina e médicos”, no qual ele afirma que “O médico, para o exercício de sua missão, tem que se mostrar um verdadeiro parceiro de seu paciente. Cumplicidade, solidariedade, compaixão, ´colo´ e sigilo são alguns dos predicados que fazem a diferença!” E ele termina: “Em suma, a IA se fará cada vez mais presente nas atenções de saúde, mas o médico deverá ser sempre o ator principal, a não ser que no futuro sejam desenvolvidos robôs que, além do conhecimento, saibam também lidar com as emoções das pessoas.”
Pois é, dr. Cutait, talvez sua previsão aconteça.
Enquanto não ocorrer, alguns médicos que agiam como os taxistas daquele ponto que tanto odiei (não odeio mais, pois não os uso) serão trocados por outros que possuam os predicados que o senhor citou.