O óbvio precisa ser escrito? Precisa. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) é exercício de adivinhação do médico e do paciente e não diz nada de nada. Escreve-se no documento que tudo pode acontecer (de dor ao óbito) e é imprevisível. Com ele, o médico tenta se livrar de qualquer acusação que o paciente queira fazer. O TCLE é a exteriorização da necessidade das pessoas de “ter um papel” para se provar alguma coisa. No caso, é prova negativa, do tipo “eu avisei” que tudo seria possível. As criações criativas da sociedade vão moldando o modo de agir das pessoas, mesmo que seja inútil. Quando se vai usar hospital ou realizar cirurgia instala-se o desejo desenfreado de colher a assinatura do paciente no TCLE da internação, da anestesia, da cirurgia e dos vários setores que acham necessário ter um documento só seu. As autoridades têm fetiche pelo TCLE: se ele existe não há responsabilidade do médico ou outro profissional. Se não existe a culpa é de quem não o elaborou. E está delimitado o alcance da responsabilidade, mesmo que o conteúdo do TCLE seja um amontoado de obviedades futurísticas amplas e possíveis. Então, mãos à obra e vamos redigir lindos documentos insignificantes para proteger os clientes do óbvio.