Diante do medo, nasce o grito. Impetuoso, estridente, sonoro – açambarcando emoções e recusas. Latente sentimento de mudança…! Solidifica a negação da realidade, edifica a crença na esperança. E por mais descrente que seja o grito, é ele único, poderoso!
A mudança pressupõe o grito. A negação do real, a aspiração do dever-ser. Aqui, não falo do Direito, falo de um sonho. Promover, entre tantas outras, a revolução que vai mudar o mundo. A revolução do antipoder! Movimento uniforme que irá dissolver as relações de poder existentes no fluxo social, sem que ao menos seja necessário dominá-las.
Será uma Revolução dos Cravos, sem os cravos. Igual a Revolução de Che, mas sem as armas. Uma cópia da Revolução das Flores, com exceção destas. Será conhecida como a Revolução do Grito! Imagine-se preso em uma teia de aranha. Ao notar a morte futura e certa, surge o grito. Mas este não é um grito de horror! É um grito de esperança! De libertação! Da mesma forma, quando (eu) grito ao despencar de um penhasco, não o faço porque tenho medo de colidir com as pedras, mas porque tenho a esperança de que tudo pode ser diferente! E a única saída é o grito.
A recusa em se contentar! A recusa em ser vítima passiva do acaso – ou no máximo, comissiva-passiva. É bem verdade que tais recusas podem até não me dizer nada sobre o futuro, bem como o fato de gritar durante a queda do penhasco não me garante uma aterrissagem mais macia, mas tudo isso possuí (para mim) um caráter nobre, qual seja, mesmo em momentos de desespero (ou caos) rejeito a aceitação de que um final feliz seja impossível!
É neste sentido que a Revolução é possível. Podemos rejeitar a realidade, sempre que ela nos agredir. Podemos lutar para mudá-la e não apenas sucumbir perante o contentamento. E para tanto, não é preciso tomar o poder. O objetivo será mudar o mundo, sem tomar o poder. Utopia? Não… uma meta! Afinal, como entender um movimento revolucionário, que, sob o pretexto de acabar com o poder, toma-o de assalto e passa a utilizá-lo na inútil tentativa de promover uma autofagia bem nos moldes modernistas da semana de 22?
URSS falhou. Cuba falhou. Nós não falharemos. Recuso qualquer assertiva em sentido contrário, pois não me contentarei em sobreviver em um sistema que nada mais faz do que segregar, massificar, desumanizar, calar… O grito será a escorva da revolução! Aos poucos, a mudança de atitude refletirá nas esferas de poder, que nada poderão fazer a não ser reconhecer a latente desfaçatez da máquina estatal e adotar o grito como conduta!
Não será necessário criar nenhum partido. Não será necessário manusear nenhum estopim. Basta rejeitar a dor e sorrir ao próximo. Basta rejeitar a ignorância e ensinar o poder das letras. Basta enterrar o ódio e fazer florescer o amor. Este não será um movimento hiperbólico, mas contagiante, que se espalhará pela inocência de um aperto de mão.
O grito, que se aferra na possibilidade de abertura (rompimento com a realidade), será, para tanto, bidimensional: por uma lado, ele se elevará a partir de nossa experiência atual implicando uma esperança, e, por outro, assumirá um caráter extático, no sentido literal de sair de si mesmo para um futuro aberto (extático – posto em êxtase, enlevado). O grito representa a tensão entre o que existe e o que deveria existir. Sendo assim, ele se encaixa diante de um reconhecimento dual da realidade: ‘NÓS SOMOS, MAS VIVEMOS EM TENSÃO COM AQUILO QUE NÃO SOMOS’. O grito é recusa-e-desejo. É expressão da existência presente do que se nega, onde sua força teórica depende apenas da possibilidade da existência do ainda-não.
Tudo isso para entender que o HORROR DO MUNDO NOS ENSINA A TER ESPERANÇA, e esta esperança é que promoverá a Revolução. Liberte-a. Grite!
Autor: Felipe Andrade
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Felipe Andrade é estudante de Direito da PUC-SP.