É espantosa a velocidade com que as mudanças estão acontecendo no mundo. A humanidade nunca viu tantas descobertas em tão pouco tempo. Nos últimos 50 anos, o mundo se transformou em rapidez inacreditável.
Usos, costumes e conhecimentos são transformados em progressão geométrica.
No meio do desenvolvimento e de toda a parafernália tecnológica atualmente existente está o homem: ser não mecânico, de carne e osso, passível de falhas, sujeito a variações emocionais momentâneas ou duradouras, destemperadas e uma série quase infinita de perturbações. Está aí toda a doutrina psicológica a respeito do ser humano para ser estudada com mais profundidade.
Neste contexto, é incrível como vemos pessoas que não se preocupam nem um pouco com a atualização, aprimoramento e/ou reciclagem profissional.
Vemos médicos, engenheiros, advogados, administradores e toda uma gama de profissionais liberais irresponsáveis que acham que a sociedade parou no momento em que se graduaram. Não estão nem aí para a evolução dos tempos. Acham que o pouco que aprenderam na faculdade é suficiente. Pensam que com aquela mixaria de conhecimento que receberam podem sair por aí resolvendo problemas dos outros, no caso dos advogados, ou salvando vidas de pessoas que, por acaso, podem ser um parente seu, caro leitor, no caso dos médicos.
Para “vencer” hoje em dia, não basta simplesmente concluir um curso superior na profissão escolhida. É quase que obrigatória a atualização profissional permanente, visando não perder o bonde da história e, em alguns casos, o próprio emprego.
Vemos ícones de ignorância arrotarem, com orgulho inerente aos mesmos, que não lêem um livro (técnico ou de cultura geral) há vários anos e que a experiência de vida lhes ensinaram a trabalhar. Esquecem-se os incultos que descobertas e necessidades de mercado, globalização, novas tecnologias, etc., tornam teorias existentes desde os primórdios, de um dia para o outro, totalmente obsoletas e desatualizadas, sem campo para aplicação ou desenvolvimento.
A informação é hoje o bem mais valioso que um profissional pode deter. E a obtenção dela deve ser rápida e imediata, pois, se demorar muito, em certos casos, sua utilidade já se perdeu no espaço.
Vamos escolher dois exemplos concretos e aleatórios.
Médicos
Em uma palestra que realizei foi feita pesquisa sobre o tempo de conclusão de graduação dos participantes da mesma. 95% dos presentes tinha saído da faculdade há menos de 2 anos. Apenas 2% tinha mais de 15 anos de formado. Ou seja, teoricamente, quem necessitaria de atualização, os formados há mais tempo, não se interessam em participar de cursos, congressos ou coisa que o valha.
E isso não é nenhum caso isolado. Pode-se constatar essa tendência na esmagadora maioria dos eventos por aí realizados. Quem participa dos mesmos são, quase sempre, as mesmas pessoas. Vê-se de cursos de pós-graduação que os alunos são, na maioria, recém-formados.
Um médico que se graduou há 20 anos, fez residência e nunca mais sentou num banco de um curso universitário ou de um congresso, poderá realizar normalmente uma intervenção cirúrgica neurológica em qualquer paciente. O seu diploma de médico e o registro no respectivo Conselho Profissional o autorizam a praticar aquele ato que lhe é privativo.
Pergunta-se: será que este profissional, por mais autodidata que seja, está sendo responsável no desenvolvimento de suas atividades? Já estamos descontando aqui as exceções. A distância deste médico das informações e das técnicas surgidas durante estes 20 anos o qualificam a realizar a intervenção cirúrgica de maneira eficaz e com alto grau de segurança para o paciente? Caso aconteça algum imprevisto durante a cirurgia, este mesmo médico não poderá ser processado, além de eventual modalidade de culpa (imprudência, negligência ou imperícia) incorrida pelo mesmo, pela sua desatualização de informação? Não tenho dúvidas de que esta tese jurídica poderá ser amplamente defendida perante os tribunais.
Advogados
No ano passado atuei em um processo que tinha, do outro lado, um advogado com seus 50 anos. Em determinado momento ele quis recorrer de uma decisão proferida pelo juiz no processo. Aquele recurso existia desde 1973. Ele não teve dúvidas, interpôs o recurso da forma prevista pelo Código de Processo Civil. Acontece que a legislação pertinente àquele procedimento havia sido alterada em 1995 (há quase 4 anos). Resultado: o recurso não foi sequer conhecido porque a sua forma de apresentação estava errada. Ela já havia sido mudada há 4 anos e o advogado, quero crer, não “sabia” que isso tinha acontecido. Como consequência, o cliente dele saiu perdedor do processo.
Não há dúvidas que o cliente daquele advogado, que não tinha feito nenhum curso de reciclagem ou atualização profissional, ou sequer tinha lido a nova legislação, poderá ajuizar ação cobrando perdas e danos daquele profissional desmazelado que parou no tempo e se esqueceu que o tempo não pára nem espera por ele.
É vital que cada profissional procure assimilar novos métodos e conhecimentos, visando estar em perfeita harmonia com a loucura que se tornou a nova ordem mundial
* Dr. Josenir Teixeira é advogado em São Paulo.