Fosse o problema deste país apenas os “sem terra”, os “com fome” ou os “sem teto”, estaríamos bem. Admira-se? Pois é. Quem trabalha diretamente com a população considerada como sendo de classe C e D nos grandes centros urbanos já notou a quantas anda a educação do nosso povo! Este é um dos maiores problemas deste país!
Estamos formando gerações de ignorantes, pessoas que freqüentam as salas de aula mas que não conseguem sequer diferenciar um papel de receituário de um de atestado médico. Poder-se-ia dizer que a letra do médico é ruim (uma verdade absoluta!). No entanto, o título destes papéis vem escrito em papel timbrado do hospital.
Triste realidade: os jovens não sabem ler, não são estimulados suficientemente para se interessar pelo novo, pelo diferente e nem para buscar soluções para seus problemas.
Exemplo simples e prático é aquele encontrado nos hospitais de periferia: chega o paciente, o médico examina, pede o exame, faz o diagnóstico e explica ao doente e a seus acompanhantes o que o enfermo tem e como deve ser seu tratamento. Percebe-se pelo olhar de um e de outro que eles não compreenderam o que foi dito. Muda-se, então, a linguagem. Metáforas são utilizadas. Vale-se de situações conhecidas para melhorar a explicação. Agora todos balançam a cabeça como que concordando com o roteiro ali apresentado. O médico, ainda na dúvida, faz uma terceira explicação, mais resumida, frisando os pontos importantes. Ao final, como que num teste de si mesmo, solicita aos familiares que repassem, com suas próprias palavras, o que lhes foi pacientemente explicado. Não há resposta satisfatória em quase 100% das vezes.
Este fato não é isolado. Converse com outros profissionais que dependem da compressão de terceiros para que algum procedimento dê resultado. Todos, sem exceção, vão queixar-se do mesmo problema.
Nem mesmo a cultura “pai para filho” é mais passada. Os conhecimentos que vinham conosco estão se perdendo. As famílias estão desestruturadas, sob todos os aspectos. Não existe comprometimento do ensino familiar nem do governo. Não se conhece o respeito, não se aprende sobre hierarquia e se cria verdadeira anarquia, que facilita a continuidade das más administrações, das políticas de resultados próximos das eleições, da falta de cobrança daquelas antigas promessas de campanha pela população, da falta de discernimento entre o certo e o errado, entre a verdade e a mentira e entre o “conto de fadas” (onde vivem alguns idealistas) e a realidade da vida.
A procura pelo pronto-socorro por casos crônicos é mais um exemplo da (falta de) cultura atual. Ora, se o paciente precisa de um médico, se este pode atendê-lo imediatamente na emergência e solucionar rapidamente o seu problema e ainda fornecer um remédio encontrado na Unidade Básica de Saúde (UBS), porque, então, procurar a mesma UBS para agendar consulta, esperar meses por ela e sequer saber se será atendido (o médico pode ter se demitido, estar afastado, faltar no dia etc.) ?
Como convencer o paciente que, no pronto-socorro, ele vai ser avaliado “superficialmente” do ponto de vista da doença, dando solução àquela “emergência” sem muitas vezes aprofundar-se nas causas e, principalmente, na prevenção de outros problemas? Exemplo típico e freqüente: dor nas costas. Tempo médio dos sintomas relatado pelos pacientes: meses. Os ortopedistas plantonistas estão acostumados a atender inúmeros pacientes com essa queixa.
Os pacientes trazem pilhas de receitas mostrando o uso de inúmeros antiinflamatórios sem qualquer preocupação quanto aos seus efeitos colaterais, prescritos por diversos médicos, em várias ocasiões, repetidos de forma desordenada. Não sabem referir a causa da dor, não entendem porque não melhoram, retornam em locais diferentes do inicial, apesar das inúmeras orientações da equipe médica sobre o tipo de atendimento realizado ali e por aí vai.
O que fazer?. Deixá-lo sem tratamento naquele momento de dor é antiético, além de desumano. Tirar-lhe a dor é a certeza de que ele não vai procurar o ambulatório nem um especialista para investigar a causa da sua enfermidade.
E aí retornamos na idéia inicial: o que estão ensinando nas escolas? Onde está a cultura, que poderia criar uma população orientada, capaz de entender e exigir os seus direitos, lutar por eles, melhorar sua condição de saúde e, talvez, sua condição sócio-econômica?
A saúde só reflete um pedacinho do nosso país. Seria salutar se tudo fosse diferente e que os nossos dirigentes começassem a pensar nas escolas com o carinho que a população merece! Aí, sim, poderíamos acreditar num futuro melhor, não mais para nós, mas talvez para os nossos filhos ou netos, porque esse não é um processo rápido e nem elegerá ninguém nos próximos quatro anos.
Autora: Luciana Andrade da Silva – Janeiro/2007